sexta-feira, 22 de julho de 2011

Indicações Cinematográficas II

             Após conhecermos as obras do magistral diretor Marcelo Masagão, foi possível integrá-las ao hall da obras de conteúdos substanciais que ilustram a interface da psicanálise ao cinema. Os filmes: "1,99", "Nem gravata, nem honra", "Nós que aqui estamos, por vós esperamos", "Otávio e as Letras" e "O Zero não é vazio" são obras esplêndidas que acessam o inconsciente ao passo que questionam a realidade e a constituição na contemporaneidade.







domingo, 17 de julho de 2011

O Projeto "A Psicanálise e o Cinema" concedeu uma entrevista ao estudante de Jornalismo Marcelo Corvino, acompanhe os detalhes:

Marcelo Corvino: Muitas vezes as imagens dos filmes mexem com o psicológico dos espectadores, como já tiveram casos em que pessoas fizeram algo devido à influência de filmes. Na sua opinião, o cinema realmente pode mexer com o psicológico das pessoas ou isso é apenas porque muitos espectadores não sabem diferenciar realidade de ficção?
Fabiane Aguiar Silva: O cinema trata-se da expressão coletiva. Os temas e enredos abordados pelo cinema são frutos da produção cinematográfica que visa a um público específico ou geral. Deste modo, o cinema é uma constituição dialética, ilustrada pela retroalimentação de um aspecto ao outro, que sacia a sede do expectador, bem como, a fome da indústria visual.
         O filme desperta aquilo que quer ser despertado. A sétima arte pode ser uma produção que desperta aspectos já existentes na estrutura neurótica dos indivíduos que a procuram para realizar o devido desejo recalcado do expectador. As milhares de opções de enredos existentes no mercado apresentam às pessoas opções de consumo, deste modo, a eleição de um filme ou outro, vai corresponder ao desejo do sujeito em experimentar a emoção disposta no enredo da obra cinematográfica. Um indivíduo perverso que ainda não encontrou a oportunidade de válvula de escape para suas atitudes mórbidas em relação ao outro pode utilizar do argumento que convence as pessoas sobre o poder de uma película cinematográfica no desvio de conduta de uma pessoa.
         Quanto à realidade. Segundo a psicanálise. O real é algo não apreendido pela linguagem, por isso, Lacan se refere ao real como indizível e designa o simbólico e o imaginário como tentativas de elaboração deste real insustentável. Deste modo, a realidade é um aspecto elaborado pela subjetividade de cada sujeito e a “divisão” entre ficção e realidade, na verdade trata-se de uma dinâmica dependente da estrutura de personalidade do indivíduo. Um psicótico, um limítrofe ou um neurótico com episódio psicopatológico de delírio podem não alcançar a cisão entre o que se trata de fantasia e o que uma elaboração consciente.
         Os filmes não realizam influências determinantes na conduta de um indivíduo, ele explora a psicopatologia de uma sociedade cujo laço social que compõe as relações é imerso em recusas do afeto, negações da ética pelo desejo e recalca as expressões subjetivas, além de exigir um ideal coletivo excludente e patologizante. A sociedade do consumo necessita repensar suas relações e inserir o questionamento em seu fazer, não necessariamente as respostas.

Marcelo Corvino: Ainda na questão psicológica, mas na relação dos atores com seus personagens. Você acha que a incorporação de personagens como o Coringa interpretado pelo australiano Heath Ledger levou o a sua trágica morte? Você acha que atores ao interpretarem personagens intensos podem colocar em risco a própria saúde?
Fabiane Aguiar Silva: A morte do ator australiano Heath Ledger tratou-se de um fato que coube à polícia investigar o caso por completo, deste modo, não se pode atribuir a uma atuação o fato do possível suicídio de uma pessoa. A interpretação de um papel não deve ser indicada, em determinante, como a causa de uma psicopatologia. Um ator é uma pessoa com uma estrutura de personalidade e que possui preferências pelas artes cênicas, deste modo, não se deve atribuir somente a um papel o fato da descompensação psíquica do sujeito. No caso de Heath Ledger, devem-se averiguar os fatores que constituíam sua vida no momento da sua crise psíquica. Aspectos como relações interpessoais, histórico de vida, cultura, estrutura de personalidade, recursos egóicos para lidar com a realidade, percepção existencial, dentre outros inúmeros fatores compõem o ser humano e o implicam em experiências como o abuso de substâncias psicoativas. A atuação de um papel como o Coringa pode exigir entrega e identificação por parte do ator, porém, a conduta que o mesmo assume sobre sua própria vida vincula-se ao seu estado de saúde mental.
Marcelo Corvino: Você acha que cada diretor ou produtor segue uma linha de pensamento e por isso que guiam seus longas sempre com um mesmo tipo de conceito?
Fabiane Aguiar Silva: O diretor ou produtor são pessoas que usam sua habilidade criativa para elaborar obras cinematográficas, deste modo, incluem em suas produções aspectos de sua personalidade. Porém, um produtor ou um diretor apresentam de acordo com sua experiência, traços de modificações em suas obras devido a fatores como: descoberta de outros estilos, aperfeiçoamento técnico, maturação criativa, influências culturais, dentre outros aspectos. Alguns diretores optam em apresentar um estilo tradicional, outros gostam de inovar com tecnologias e raciocínio crítico. Deste modo, tais profissionais podem ou não apresentar conceitos lineares, isto dependerá do desenvolvimento de sua experiência psíquica e estrutura de personalidade.
Marcelo Corvino: Você poderiaclassificar a personalidade de uma pessoa de acordo com os filmes que ela aprecia?
Fabiane Aguiar Silva: A classificação de uma personalidade exige avaliações rigorosas. A psicologia utiliza técnicas e diversos instrumentos avaliativos para formular a classificação personal de uma pessoa. A preferência por determinados filmes apenas indica um ínfimo aspecto da subjetividade humana. Assim, não é possível apontar a personalidade de uma pessoa somente a partir dos filmes que esta assiste, esta seria uma avaliação superficial e não corresponderia à plenitude da dinâmica psíquica de um sujeito.

domingo, 22 de maio de 2011

Participação do Projeto “A Psicanálise e o Cinema” no VII Congresso Norte Nordeste de Psicologia



           A equipe técnica do projeto “A Psicanálise e o Cinema” compareceu a Salvador-Ba para prestigiar o VII Congresso Norte e Nordeste de Psicologia-Conpsi. Os acadêmicos tiveram a oportunidade de participar de comunicações científicas, mesas redondas e simpósios de temáticas relacionadas à psicanálise, subjetivação na contemporaneidade, arte e expressão, dentre outros.
            Mediante aos trabalhos assistidos, destacam-se as iniciativas de análise do contexto social através da eleição de uma temática contemporânea e a correlação com filmes ilustrativos. Os filmes “Abril Despedaçado” (2001) e “Alice no país da maravilhas” (2010) foram indicados por alguns trabalhos apresentados para o estudo psicanalítico acerca dos temas: tragédia e psicanálise Kleineana, respectivamente. Além disso, atentou-se a uma das pesquisas explanadas que tratava sobre a acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência visual ao filme através do cinema narrado.

            A iniciativa do congresso visou a comunicação das iniciativas científicas e discussões teóricas distribuídas entre as Universidades, Organizações e Entidades brasileiras de maneira a difundir o conhecimento psi e levantar questionamentos acerca dos rumos da psicologia no Brasil. Verificou-se que a estratégia da arte e expressão como um dos principais mecanismos de acesso da função científica ao coletivo sobre o reflexo da subjetivação na contemporaneidade a partir do cinema, música, teatro, literatura, dentre outras nuances artísticas.
            A utilização do cinema pode ampliar a função social do conhecimento psi ao questionar aspectos cristalizados da sociedade e promover o encontro da ciência com as interfaces dos modos de subjetivação no protagonismo social. A partir de eventos como o Conpsi, os estudantes vinculados a projetos de extensão podem entrar em contato com as iniciativas de aliança do científico às massas e principais conteúdos difundidos pelas produções contemporâneas no território nacional.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Mary e Max: O laço social e a constituição das subjetividades.



Por Fabiane Aguiar Silva

A singela e metafórica produção cinematográfica em questão trata-se da narração da história real de duas subjetividades que ao primeiro olhar ressaltam-se dicotômicas, porém, os contrapontos de suas existências revelarão a cumplicidade de ambos na compreensão do mundo, essa é a história de Mary e Max. O enredo se desenvolve a partir das disparidades entre as realidades da doce garotinha e do solitário homem, porém, as distinções vão se tornando ínfimas ao serem constatadas as dificuldades de ambos em lidarem com o laço social em que estão envolvidos.
            Mary Daisy Dinkle é uma menina de 8 anos de idade que vive nos subúrbios de Melbourne , Austrália com sua mãe (seu pai, após o divórcio, vive sozinho em uma outra casa e em seguida chega a falecer), seu galo e seus brinquedos fabricados artesanalmente por ela mesmo. Max Jerry Horowitz é um judeu de 44 anos, que vive em um apartamento junto a seu peixe (Henrique XIII – o oitavo peixe, último e ainda sobrevivente) na caótica Nova York, além da solitária existência, o funcionário público sofre de obesidade e enfrenta uma rara patologia chamada Síndrome de Asperger. As personagens se caracterizam como cúmplices ao tentar atribuir sentido às suas angústias de “inadequação” em contextos distintos. O desejo particular que move Mary e Max é a chave do encontro de suas vivências.


Após um fenômeno do acaso, Mary, que não possui amigos e é ridicularizada por aqueles que poderiam ser, sente o desejo de corresponder-se alguém que sanasse suas dúvidas e a auxiliaria na compreensão do que ela não entende ou não conhece. Após abrir uma lista telefônica de porte enciclopédico, a menina divaga sobre os donos dos nomes ali publicados, e ao arrancada de sua leitura pela mãe durante uma fuga, Mary rasga o final da página e leva consigo um registro: o endereço do americano de “nome estranho”, Max Jerry Horowitz. Em seguida ao acontecido, uma ingênua e simples correspondência transformará a vida de ambos para sempre e os inscreverá em duas décadas de história e amizade. Ambas as existências se tornam companheiras através de cartas que trocam experiências relacionadas aos principais questionamentos sobre a vida, o cotidiano, crenças, dúvidas triviais ou singulares, dentre outros assuntos que inquietam a subjetividade.


Mary lança Max aos questionamentos da realidade que o distancia da vida em sociedade e que o aproxima da síndrome de não conseguir lidar com a elaboração emocional e metafórica sobre a vida, o intrigante e o indizível. Enquanto Max questiona Mary, através de perguntas simbólicas que destacam sobre a vida a qual a menina está diante, existência cuja interação está em seu início e aos primeiros passos encontra dificuldades.
Destaca-se a relação construída entre Mary e Max como um fenômeno que não existia na história de cada um. Com paciência, humildade e significância, Max respondia às perguntas de Mary e esta o retribuía com carinho, fidelidade e guloseimas. A recém vivência social de Mary encontrava na avançada idade de Max, a constatação de que o laço social em que interagiam não proporcionava a ambos, aquilo que desejavam. Independente da idade, as interações sociais não facilitam o afeto nem aos mais velhos, nem aos mais novos. Quem seriam os afortunados por esta sociedade atual?
Aparentemente, a história das vidas solitárias de Mary e Max poderia apresentar um enredo clichê de segregação, indignação e pessimismo, porém, o desejo, a ternura e a personalidade curiosa e indagadora de Mary e Maxi, respectivamente, constroem a narrativa de um conto reflexivo e realista sobre o laço alternativo ao laço social régio, a amizade pelo afeto independente das convenções.
O social abordado nesta discussão trata-se das relações e interações entre os indivíduos que convivem aos ditames do ético, civil e político, porém, revela-se protocolar, por via das convenções e essencialmente do espetáculo, do consumismo, dos ícones e da ridicularização do ser desprovido de tais critérios. (Colocar trecho da “Sociedade do espetáculo” ou “Laço social”).

“[...] o laço social contemporâneo é um paradoxo na impossibilidade do discurso capitalista de fazer laço e ‘se hoje nos sentimos tão melancolicamente livres, é que nos falta tinta vermelha, falta-nos linguagem para formular a verdade relativa à nossa ausência de liberdade’.”(Teixeira, 1999 p. 39 in Silva & Couto, 2009).

Mediante as referidas reflexões, questiona-se: se o afeto, o respeito, a cumplicidade e as relações são mecanismos que não fazem parte do vínculo social, qual seria a matéria-prima desta vinculação?

A discussão psicanalítica sobre as temáticas em voga possibilita-nos questionar os padrões construídos pela sociedade para sustentar a neurose coletiva da recusa ao que é castrador. A falta é representada pelo vazio sufocante que imerge o sujeito na busca pelo compensador e reparável a partir da negação angustiante da constatação do limite e da finitude.


Referencial Bibliográfico
Silva, Liliane M. A.; Couto, Luis Flavio. A questão do suicídio: algumas possibilidades de discussão em Durkheim e na Psicanálise. Arquivos Brasileiros de Psicologia.Vol. 61, No 3 (2009).




Discussão sobre as implicações narcísicas na constituição das estruturas de personalidade retratadas no filme “O Retrato de Dorian Gray”.


              


Por Fabiane Aguiar Silva

           Durante a tarde do último sábado (09/04), o projeto “A Psicanálise na Cultura” realizou sua retomada a através da discussão teórica sobre o narcisismo. Na oportunidade, o grupo de estudo utilizou como suporte teórico para a discussão o artigo “Sobre o narcisismo: uma introdução”, 1914, volume XIV, Freud, Sigmund.
            As discussões envolvendo as indagações freudianas sobre libido do ego e libido do objeto apontaram o filme: O Retrato de Dorian Gray, 1945, como a ilustração sobre a constituição das estruturas de personalidade e suas relações com o outro através do investimento libidinal.
Na obra cinematográfica, o protagonista estabelece a relação à constituição narcísica do ego através da interação objetal com o outro.

 "Dorian Gray é moralmente corrupto. Os anos passam e sua beleza e juventude continuam a ser mantidas. Um retrato seu que ele mantém para si, escondido de olhos alheios, guarda seus segredos - à medida que os anos vão passando, o retrato vai exibindo sua feiúra interior. Aos poucos, porém, suspeitas começam a acontecer com relação a seu comportamento e vitalidade".
 fonte:http://www.cineplayers.com/filme.php?id=2979

            O projeto “A Psicanálise e o Cinema” realiza-se em concomitância ao projeto “A psicanálise na Cultura” ao passo que ressalta as produções cinematográficas como representações da coletividade acerca do sentido atribuído à realidade.

sábado, 19 de março de 2011

Participe do seminário:
O Desejo do Psicanalista
SINOPSE:
O desejo do analista é um conceito inventado por Lacan, que não encontramos em Freud, para designar o desejo que move alguém em análise, particularmente no período do final de análise a tornar-se analista. Esse mesmo desejo é o instrumento com o qual o analisante que se tornou analista vai operar, por sua vez, na condução do tratamento analítico de seus analisantes. É o desejo do analista que se encontra na base da ética da psicanálise, pois é o desejo correlato á ação do analista em sua clínica. O desejo do analista é o que o habilita a manejar a transferência para colocá-lo a serviço do trabalho analítico, e, portanto, vencer as resistências que tentam obstaculizar o processo, já que a transferência tem duas faces: facilitação e impedimento. Se o desejo do analista não estiver afinado com o trabalho, a resistência surgirá também do seu lado, por meio de uma transferência mal colocada por parte dele, e que o ensurdecerá para ESCUTAR as palavras que são ditas pelo analisando. Atuando sua própria transferência, o analista se coloca equivocadamente como sujeito, em vez de ser instrumento nesse processo, objeto, portanto.  É essa a resistência que melhor configura um obstáculo para a análise. O analista é pago para que se lembre disso. Alias o dinheiro que recebe é também uma compensação por sua abstenção subjetiva, recompensa por ter deixado de lado o eu.

LOCAL: Faculdade de Medicina-UFAM (Sala 1.2 – entrada pelo auditório Dr.Zerbini)
ENDEREÇO: Rua Afonso Pena 1053. (Fundos do Hospital HUGV) –Boulevard)
DATA: 26/03/2011 – SÁBADO
HORÁRIO: 09:00 ÀS 12 HORAS.
VALOR: R$ 20,00b REAIS (CERTIFICADO ENTREGUE NO FINAL DO SEMINÁRIO)
INFORMAÇÕES: 81342754
PALESTRANTE: Waieser Bastos (Mestre em Psicanálise e Práticas Clínicas pela Universidade Federal do Ceará-UFC, professor substituto da Faculdade de Medicina-UFAM, docente do Curso de Psicologia da Universidade Nilton Lins, apresentou vários trabalhos em congressos nacionais de psicanálise: (A Fantasia de Espancamento: o olhar e a Voz/Congresso de psicanálise da UFC-Fortaleza-2009); (O amor entre a histeria e a obsessão/Congresso de Psicopatologia Fundamental 2010–Curitiba), autor do livro Neurose Obsessiva em Mulheres (no prêlo-EDUA).

terça-feira, 15 de março de 2011

Confira o trailer da magistral obra de animação: Mary & Max

A animação Mary & Max é uma emocionante história real contada através de uma narrativa singela e poética.

Confira o trailer !


Em breve, postaremos uma análise sobre a obra e então, lançaremos a proposta de discussão sobre a relevância do laço social na constituição subjetiva dos indivíduos da sociedade contemporânea.

Até,lá!

segunda-feira, 7 de março de 2011

Obras da Psicanalista DINARA GOUVEIA MACHADO GUIMARÃES abordando as temáticas de interface da Psicanálise e o Cinema





"Este olhar que Dinara Machado lança ao cinema, via Lacan, é uma aventura dos limites: percorre a fronteira entre o que (não) pode ser dito e o que (não) pode ser mostrado, entre ofuscamento e silêncio, discurso e iluminação."
Rogério Luz – Artista plástico, professor da Escola de Comunicação da UFRJ.

"Um livro como este só pode ser bem-vindo. Dinara Machado soube ser original e ousada sem no entanto abandonar o rigor teórico, sempre indispensável, principalmente quando se trata de psicanálise."
Maria Anita C. R. Lima Silva – Psicanalista, Doutora Professora da PUC/RJ.

"Dinara Machado cria um caminho para a leitura do cinema através da psicanálise invertendo a atitude habitual de "psicanalisar" os temas da obra cinematográfica. Propõe, ao contrário, reconstruir o olhar criador, que se instaura como busca em abismo. Pela psicanálise lacaniana, percorre, no sobre-olhar proposto, a tra ma do olho-cinemática, Trata o cinema como significante único, irredutível, ato-significante.
Instância do fazer poético, o cinema é marcado como "vazio iluminado". Habita, no limite, o campo do indizível, para-além do não-dito.
Instalando-se no ponto de construção do olhar, Dinara descobre "outro olhar" que faz o cínema. Por esse raciocínio reelabora as tramas entre "sujeito" e linguagem-"objeto", sem o costumeiro reducionismo da obra à biografia do autor. Consegue cercar seu "objeto", o "vazio iluminado", tecendo as bordas do vazio que consiste na vertigem da aposta pessoal do cineasta. Aposta radical como anteparo do grande oco, da "clareira", nó da arte, ou a própria morte. (...)
O livro abre muitas possibilidades prospectivas, como a de configuração imaginá ria do olhar internalizada nos itinerários técnicos do cinema. Por isso é uma obra "seminal", semeia e aduba também para outras colheitas. Umbral de olhares e pensamentos.
Carlos E. Uchôa Fagundes Jr. – Artista plástico, Doutor em História da Arte pela USP.
"Este livro, agora em segunda edição, é obra que mescla o vigor da criatividade com o rigor da teoria. Obra pioneira – primeira a sair no Brasil propondo uma leitura psicanalítica do fenômeno cinematográfico –, Vazio iluminado é referência obrigatória para uma reflexão sobre esses campos."
Ari Roitman – Psicanalista e editor.

Dinara Gouveia Machado Guimarãe é psicanalista, Mestre e Doutora pela Escola de Comunicação da UFRJ.


Voz fora do corpo no cinema
Romildo do Rego Barros
“Depois de publicar há alguns anos O vazio iluminado, cujo tema era o olhar no cinema, Dinara Guimarães nos dá agora a conhecer Voz na luz, prosseguindo assim a sua pesquisa, situada por ela própria na interface cinema-psicanálise.
(...)
A interface, espaço escolhido pela autora para situar o livro e o seu próprio percurso de pesquisadora – sintetizado na fórmula “não escrever sobre cinema; à luz do cinema, sim” –, é uma montagem que visa a captar de alguma forma os restos e fragmentos de campos diferentes. Ou seja, é o lugar que um autor inventa ao se situar criativamente entre dois campos, juntando-os algumas vezes, separando-os outras. É o esforço de abrir uma passagem que não havia antes, de explorar uma outra já existente, ou de fechar uma terceira que se revela falsa, de tal maneira que outros possam percorrer o mesmo caminho, necessariamente reinventando-o.
(...)
Instalar-se por um tempo na interface cinema-psicanálise, como faz mais uma vez Dinara Guimarães neste livro, implica discutir, como psicanalista, com dezenas de artistas, teóricos e críticos de cinema, nomeados na bibliografia deste livro. Cada um deles trata à sua maneira da voz, e para isso é preciso que, ainda que não intencionalmente, tenham separado esse objeto do conjunto das funções e elementos que estão presentes em um filme.
(...)
Assim como se separa do corpo, a voz pode igualmente se isolar da fala e do sentido. No cinema, o exemplo talvez mais marcante é a passagem do cinema mudo – termo que, aliás, Dinara Guimarães recusa, preferindo-lhe “silencioso” – para o cinema falado, “o grande culpado da transformação”, como cantava Noel Rosa.
(...)
Separando-se do corpo que a recobria e a unia à fala, a voz pode retornar para o sujeito como acusação, perseguição ou imperativo superegóico, isto é, como uma injunção que não é sequer um enigma a ser interpretado, mas pode também se constituir como causa do desejo.
Este é sem dúvida um ponto em comum entre o cinema e a clínica psicanalítica: fazer com que a irrupção da voz para fora do sentido possa ser usada para mobilizar o desejo e não para esmagá-lo.”
Romildo do Rego Barros
DINARA GOUVEIA MACHADO GUIMARÃES é psicanalista, Mestre e Doutora pela Escola de Comunicação da UFRJ.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Indicações Cinematográgicas e Bibliográficas



Montagem by Erick Berenguel


O Projeto A Psicanálise e o Cinema indica as principais obras cinematográficas e referenciais bibliográficos relacionados a temas em Psicanálise.

-Obras Cinematográficas:
“Oito e Meio”
“Os Pássaros”
“Infidelidade”
“Uma Viagem à Índia”
"21 gramas"
"Magnólia"
"Babel"
"Beleza Americana"
"Na Natureza Humana"
"O Labirinto do Fauno"
"Sobre Meninos e Lobos"
“A Bela da Tarde”
“Madame Bovary”
“Cenas de um Assassinato”
“Closer, Perto Demais”
“De Olhos bem Fechados”
“Operação Valquíria”
“Freud, Além da Alma”
“o Estigmata”
“O Último Tango em Paris”
“Uma Mente Brilhante”
“Uma Mente Brilhante”
“Morangos Silvestres”
“Vertigo, Um Corpo que Cai”
“As Loucuras do Rei George”
“Joana D’Arc”
“Persona”
“Um de Nós Morrerá”
“Minha Mãelinha Querida”
“O Homem Elefante”
“Fritz Corrado”
“Marnie, Confissões de uma Ladra”
“Entre o Bem e o Pecado”
“Amigo Oculto”
“Farrapo Humano”
“O Ladrão de Bicicletas”
“A Lavoura Arcaica”
“O Cheiro do Ralo”
“Notas sobre um Escândalo”
“Sylvia, Paixão Além das Palavras”
“Mistérios da Carne”
“Contos Proibidos do Marquês de Sade”
“A Lula e a Baleia”
“De repente o Último Verão”
“Réquiem para um Sonho”
“Festim Diabólico”
“Sabotagem”
“O Iluminado”
“Prenda-me se for Capaz”
“A Lista: você está Disponível”
“Cisne Negro”

-Referências Bibliográficas
Psicanálise e Cinema - Marc Vernet
Filme e Subjetividade - Rogério Luz
Psicanálise e Cinema - Geraldino Alves Ferreira Neto (Wenders)
O Vazio Iluminado: O Olhar dos Olhares - Dinara Guimarães
A voz na Luz - Dinara Guimarães

-Artigos
O Divã do Pobre - Felix Guattarri
Teoria do Cinema e Psicanálise: Intersecções - Fernão Ramos
A subjetividade e as imagens alheias: Resiginificação - Jean Claude Bernardet
Cinema e Psicanálise: A anatomia de um desencontro - Claudio Duque
Cinema e Psicanálise - Juliana Psaros
Tudo que você gostaria de saber sobre Lacan e ousou perguntar a Slavoj Zizec: Psicanálise e Cinema - Elsa Santos Neves

Montagem by Erick Berenguel

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Prosseguimento das Atividades dos Projetos Vinculados ao Psicanálise na Cultura

Caros companheiros,


Neste próximo sábado ocorrerá um encontro para retomarmos o curso que era ministrado pelo professor Galvão e que terá continuação com o Prof. Waiser.
Na oportunidade, discutiremos sobre a continuidade das ações dos demais projetos.
Conto com a presença der todos.
Segue o endereço para sabádo pela manha (19/02/2011) - 9:00hs.
Rua são Bento 257 - Gloria -proximo do bairro da Gloria.

Dúvidas:
Fabi 8142-7427

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Cisne Negro: O nome do pai e as inscrições psicopatológicas.



Por Fabiane Aguiar Silva
O Cisne Negro (The Black Swan) é a mais recente obra a estrear no mercado cinematográfico. Do diretor Aronofsky,o filme narra a vida de Nina (Natalie Portman), uma bailarina obstinada em alcançar o papel mais importante da companhia de balé, representar o Cisne Negro no espetáculo o Lago dos Cisnes.
Nina trata-se de uma moça bonita, introspectiva e que possui um apego forte e excessivo às próprias idéias. Filha única, Nina vive com a mãe (uma bailarina aposentada) e recebe toda a projeção desta. A mãe possui uma personalidade de expressão ambígua e trata a filha como uma criança. Ao passo que incentiva a filha a conseguir os melhores resultados, incessantemente, lembra a garota que ela também pode vir a ser um fracasso. Além disso, a mãe apresenta-se como uma mulher solitária e que dedica sua vida à filha, velando o seu sono, ajudando a cortar as unhas e a se vestir, bem como, exercendo um protecionismo demasiado sobre a menina.
Em busca da perfeição, explorando as principais características de sua personalidade e uma vida social distinta do seio familiar, a bailarina se defronta com seu inconsciente. Ao desvendar aspectos obscuros de sua personalidade, a bailarina enfrenta dificuldades de lidar com sua própria obstinação, crueldade e fragilidade egóica.
Ressalta-se que estes escritos possuem a finalidade de efetuar a interface do cinema com a psicanálise. Deste modo, elencam-se dois pontos a serem abordados nesta discussão. As aulas explanadas pelo professor Galvão no projeto a Psicanálise na cultura, os atendimentos pelo projeto A criança como desafio no ambulatório Araújo Lima, bem como as supervisões providenciadas pelo projeto A Psicanálise e o Cinema possibilitaram a fundamentação para uma análise mais apurada sobre as temáticas da ausência do nome do pai e as implicações psicopatológicas das estruturas ou da não estrutura de personalidade.
A título metodológico retifica-se que Nina é uma personagem criada pelos roteiristas do filme, desta forma, convém-se tratar sua, possível, constituição subjetiva como um resultado da ficção. As afirmações neste artigo serão frutos de interpretações da construção personal da protagonista sob o olhar da acadêmica que escreve este artigo. Portanto, tais argumentos são suscetíveis a discussões, ou seja, contribuições através das críticas.
O roteiro do filme revela Nina como um ser que desconhece limites e nega-se a lidar com os obstáculos (do real) que se apresentam no caminho do seu desejo. No desenvolvimento da saga de Nina, verifica-se que a moça busca o objeto a em si mesma, ela trata-se do próprio objeto a. E para tal, a bailarina passa colocar em simbiose a fantasia e a realidade, demonstrando traços de paranóia em relação à mãe e à segunda bailarina da companhia (uma figura identificatória), mas também, calculando de forma neurótica uma obsessão pelo bailar como Cisne Negro. Segundo Melman, 2008:
“Somos os únicos, no reino animal, cuja possibilidade de realização sexual é organizada por uma dissimetria [...] É preciso esse tipo de disfuncionamento – que encontramos regularmente em toda abordagem da criança - ,esse tipo de infelicidade para que a relação do sujeito com o mundo, com seu desejo, com sua identidade possa ocorrer.Evidentemente, vê-se de que maneira essa perda instala um limite e como esse limite tem a propriedade de manter o desejo e a vitalidade do sujeito. O pai, contrariamente a uma abordagem simplista da situação edipiana, não é tanto aquele que interdita quanto aquele que dá o exemplo da ultrapassagem autorizada do limite para cumprir o desejo, o desejo sexual. Todo mundo sabe que o cumprimento do desejo sempre tem esse aspecto momentaneamente fora da norma, algo transgressivo.
A função do pai é, então, colocar o impossível a serviço do gozo sexual... e nos perguntamos por qual aberração o pai pôde se fazer identificar como o interditor do desejo, enquanto que é, primeiro, o seu promotor.” (p. 21-22).
A ausência da interdição do nome do pai e a quebra da relação simbiótica de Nina com a mãe através da busca pela castração podem caracterizar algum diagnóstico psicótico ou neurótico? Afinal, Nina possui uma estrutura? A protagonista seria um paciente limítrofe em potencial?
E para incitar tal argumentação diagnóstica, cita-se Bergeret et al.,2006:
“A estabilidade das estruturas verdadeiras implica igualmente, ao mesmo tempo, uma impossibilidade fundamental de passar da estrutura neurótica à estrutura psicótica (ou inversamente), a partir do momento em que um Ego específico é organizado em um sentido no outro. A mais ‘neurótica’ das psicoses e a mais ‘psicótica’ das neuroses não chegarão jamais em uma linhagem comum se organização do Ego.” (p.308)
Sendo a psicopatologia o sintoma da maneira como o sujeito lida com sua estrutura de personalidade, propõe-se uma discussão a todos que assistiram ao filme e verificaram o conflito encerrado em Nina, bem como, suas dimensões.
Quais os caminhos de uma Clínica Psicanalítica aos estados fronteiriços?

Referencial Bibliográfico
Bergeret, J. ET al. 2006. Psicopatologia: teoria e clínica. 9. Ed.Porto Alegre: Artmed. 308 p.
Melman, Charles. O Homem sem Gravidade.Gozar a qualquer preço. Entrevistas por Jean-Pierre Lebrun.Ed. Companhia de Freud. Rio de Janeiro, 2008.