sexta-feira, 22 de julho de 2011

Indicações Cinematográficas II

             Após conhecermos as obras do magistral diretor Marcelo Masagão, foi possível integrá-las ao hall da obras de conteúdos substanciais que ilustram a interface da psicanálise ao cinema. Os filmes: "1,99", "Nem gravata, nem honra", "Nós que aqui estamos, por vós esperamos", "Otávio e as Letras" e "O Zero não é vazio" são obras esplêndidas que acessam o inconsciente ao passo que questionam a realidade e a constituição na contemporaneidade.







domingo, 17 de julho de 2011

O Projeto "A Psicanálise e o Cinema" concedeu uma entrevista ao estudante de Jornalismo Marcelo Corvino, acompanhe os detalhes:

Marcelo Corvino: Muitas vezes as imagens dos filmes mexem com o psicológico dos espectadores, como já tiveram casos em que pessoas fizeram algo devido à influência de filmes. Na sua opinião, o cinema realmente pode mexer com o psicológico das pessoas ou isso é apenas porque muitos espectadores não sabem diferenciar realidade de ficção?
Fabiane Aguiar Silva: O cinema trata-se da expressão coletiva. Os temas e enredos abordados pelo cinema são frutos da produção cinematográfica que visa a um público específico ou geral. Deste modo, o cinema é uma constituição dialética, ilustrada pela retroalimentação de um aspecto ao outro, que sacia a sede do expectador, bem como, a fome da indústria visual.
         O filme desperta aquilo que quer ser despertado. A sétima arte pode ser uma produção que desperta aspectos já existentes na estrutura neurótica dos indivíduos que a procuram para realizar o devido desejo recalcado do expectador. As milhares de opções de enredos existentes no mercado apresentam às pessoas opções de consumo, deste modo, a eleição de um filme ou outro, vai corresponder ao desejo do sujeito em experimentar a emoção disposta no enredo da obra cinematográfica. Um indivíduo perverso que ainda não encontrou a oportunidade de válvula de escape para suas atitudes mórbidas em relação ao outro pode utilizar do argumento que convence as pessoas sobre o poder de uma película cinematográfica no desvio de conduta de uma pessoa.
         Quanto à realidade. Segundo a psicanálise. O real é algo não apreendido pela linguagem, por isso, Lacan se refere ao real como indizível e designa o simbólico e o imaginário como tentativas de elaboração deste real insustentável. Deste modo, a realidade é um aspecto elaborado pela subjetividade de cada sujeito e a “divisão” entre ficção e realidade, na verdade trata-se de uma dinâmica dependente da estrutura de personalidade do indivíduo. Um psicótico, um limítrofe ou um neurótico com episódio psicopatológico de delírio podem não alcançar a cisão entre o que se trata de fantasia e o que uma elaboração consciente.
         Os filmes não realizam influências determinantes na conduta de um indivíduo, ele explora a psicopatologia de uma sociedade cujo laço social que compõe as relações é imerso em recusas do afeto, negações da ética pelo desejo e recalca as expressões subjetivas, além de exigir um ideal coletivo excludente e patologizante. A sociedade do consumo necessita repensar suas relações e inserir o questionamento em seu fazer, não necessariamente as respostas.

Marcelo Corvino: Ainda na questão psicológica, mas na relação dos atores com seus personagens. Você acha que a incorporação de personagens como o Coringa interpretado pelo australiano Heath Ledger levou o a sua trágica morte? Você acha que atores ao interpretarem personagens intensos podem colocar em risco a própria saúde?
Fabiane Aguiar Silva: A morte do ator australiano Heath Ledger tratou-se de um fato que coube à polícia investigar o caso por completo, deste modo, não se pode atribuir a uma atuação o fato do possível suicídio de uma pessoa. A interpretação de um papel não deve ser indicada, em determinante, como a causa de uma psicopatologia. Um ator é uma pessoa com uma estrutura de personalidade e que possui preferências pelas artes cênicas, deste modo, não se deve atribuir somente a um papel o fato da descompensação psíquica do sujeito. No caso de Heath Ledger, devem-se averiguar os fatores que constituíam sua vida no momento da sua crise psíquica. Aspectos como relações interpessoais, histórico de vida, cultura, estrutura de personalidade, recursos egóicos para lidar com a realidade, percepção existencial, dentre outros inúmeros fatores compõem o ser humano e o implicam em experiências como o abuso de substâncias psicoativas. A atuação de um papel como o Coringa pode exigir entrega e identificação por parte do ator, porém, a conduta que o mesmo assume sobre sua própria vida vincula-se ao seu estado de saúde mental.
Marcelo Corvino: Você acha que cada diretor ou produtor segue uma linha de pensamento e por isso que guiam seus longas sempre com um mesmo tipo de conceito?
Fabiane Aguiar Silva: O diretor ou produtor são pessoas que usam sua habilidade criativa para elaborar obras cinematográficas, deste modo, incluem em suas produções aspectos de sua personalidade. Porém, um produtor ou um diretor apresentam de acordo com sua experiência, traços de modificações em suas obras devido a fatores como: descoberta de outros estilos, aperfeiçoamento técnico, maturação criativa, influências culturais, dentre outros aspectos. Alguns diretores optam em apresentar um estilo tradicional, outros gostam de inovar com tecnologias e raciocínio crítico. Deste modo, tais profissionais podem ou não apresentar conceitos lineares, isto dependerá do desenvolvimento de sua experiência psíquica e estrutura de personalidade.
Marcelo Corvino: Você poderiaclassificar a personalidade de uma pessoa de acordo com os filmes que ela aprecia?
Fabiane Aguiar Silva: A classificação de uma personalidade exige avaliações rigorosas. A psicologia utiliza técnicas e diversos instrumentos avaliativos para formular a classificação personal de uma pessoa. A preferência por determinados filmes apenas indica um ínfimo aspecto da subjetividade humana. Assim, não é possível apontar a personalidade de uma pessoa somente a partir dos filmes que esta assiste, esta seria uma avaliação superficial e não corresponderia à plenitude da dinâmica psíquica de um sujeito.