terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Cisne Negro: O nome do pai e as inscrições psicopatológicas.



Por Fabiane Aguiar Silva
O Cisne Negro (The Black Swan) é a mais recente obra a estrear no mercado cinematográfico. Do diretor Aronofsky,o filme narra a vida de Nina (Natalie Portman), uma bailarina obstinada em alcançar o papel mais importante da companhia de balé, representar o Cisne Negro no espetáculo o Lago dos Cisnes.
Nina trata-se de uma moça bonita, introspectiva e que possui um apego forte e excessivo às próprias idéias. Filha única, Nina vive com a mãe (uma bailarina aposentada) e recebe toda a projeção desta. A mãe possui uma personalidade de expressão ambígua e trata a filha como uma criança. Ao passo que incentiva a filha a conseguir os melhores resultados, incessantemente, lembra a garota que ela também pode vir a ser um fracasso. Além disso, a mãe apresenta-se como uma mulher solitária e que dedica sua vida à filha, velando o seu sono, ajudando a cortar as unhas e a se vestir, bem como, exercendo um protecionismo demasiado sobre a menina.
Em busca da perfeição, explorando as principais características de sua personalidade e uma vida social distinta do seio familiar, a bailarina se defronta com seu inconsciente. Ao desvendar aspectos obscuros de sua personalidade, a bailarina enfrenta dificuldades de lidar com sua própria obstinação, crueldade e fragilidade egóica.
Ressalta-se que estes escritos possuem a finalidade de efetuar a interface do cinema com a psicanálise. Deste modo, elencam-se dois pontos a serem abordados nesta discussão. As aulas explanadas pelo professor Galvão no projeto a Psicanálise na cultura, os atendimentos pelo projeto A criança como desafio no ambulatório Araújo Lima, bem como as supervisões providenciadas pelo projeto A Psicanálise e o Cinema possibilitaram a fundamentação para uma análise mais apurada sobre as temáticas da ausência do nome do pai e as implicações psicopatológicas das estruturas ou da não estrutura de personalidade.
A título metodológico retifica-se que Nina é uma personagem criada pelos roteiristas do filme, desta forma, convém-se tratar sua, possível, constituição subjetiva como um resultado da ficção. As afirmações neste artigo serão frutos de interpretações da construção personal da protagonista sob o olhar da acadêmica que escreve este artigo. Portanto, tais argumentos são suscetíveis a discussões, ou seja, contribuições através das críticas.
O roteiro do filme revela Nina como um ser que desconhece limites e nega-se a lidar com os obstáculos (do real) que se apresentam no caminho do seu desejo. No desenvolvimento da saga de Nina, verifica-se que a moça busca o objeto a em si mesma, ela trata-se do próprio objeto a. E para tal, a bailarina passa colocar em simbiose a fantasia e a realidade, demonstrando traços de paranóia em relação à mãe e à segunda bailarina da companhia (uma figura identificatória), mas também, calculando de forma neurótica uma obsessão pelo bailar como Cisne Negro. Segundo Melman, 2008:
“Somos os únicos, no reino animal, cuja possibilidade de realização sexual é organizada por uma dissimetria [...] É preciso esse tipo de disfuncionamento – que encontramos regularmente em toda abordagem da criança - ,esse tipo de infelicidade para que a relação do sujeito com o mundo, com seu desejo, com sua identidade possa ocorrer.Evidentemente, vê-se de que maneira essa perda instala um limite e como esse limite tem a propriedade de manter o desejo e a vitalidade do sujeito. O pai, contrariamente a uma abordagem simplista da situação edipiana, não é tanto aquele que interdita quanto aquele que dá o exemplo da ultrapassagem autorizada do limite para cumprir o desejo, o desejo sexual. Todo mundo sabe que o cumprimento do desejo sempre tem esse aspecto momentaneamente fora da norma, algo transgressivo.
A função do pai é, então, colocar o impossível a serviço do gozo sexual... e nos perguntamos por qual aberração o pai pôde se fazer identificar como o interditor do desejo, enquanto que é, primeiro, o seu promotor.” (p. 21-22).
A ausência da interdição do nome do pai e a quebra da relação simbiótica de Nina com a mãe através da busca pela castração podem caracterizar algum diagnóstico psicótico ou neurótico? Afinal, Nina possui uma estrutura? A protagonista seria um paciente limítrofe em potencial?
E para incitar tal argumentação diagnóstica, cita-se Bergeret et al.,2006:
“A estabilidade das estruturas verdadeiras implica igualmente, ao mesmo tempo, uma impossibilidade fundamental de passar da estrutura neurótica à estrutura psicótica (ou inversamente), a partir do momento em que um Ego específico é organizado em um sentido no outro. A mais ‘neurótica’ das psicoses e a mais ‘psicótica’ das neuroses não chegarão jamais em uma linhagem comum se organização do Ego.” (p.308)
Sendo a psicopatologia o sintoma da maneira como o sujeito lida com sua estrutura de personalidade, propõe-se uma discussão a todos que assistiram ao filme e verificaram o conflito encerrado em Nina, bem como, suas dimensões.
Quais os caminhos de uma Clínica Psicanalítica aos estados fronteiriços?

Referencial Bibliográfico
Bergeret, J. ET al. 2006. Psicopatologia: teoria e clínica. 9. Ed.Porto Alegre: Artmed. 308 p.
Melman, Charles. O Homem sem Gravidade.Gozar a qualquer preço. Entrevistas por Jean-Pierre Lebrun.Ed. Companhia de Freud. Rio de Janeiro, 2008.

3 comentários:

  1. Parece ser um filme muito bem feito.*--*
    Me siga http://jpgirl99.blogspot.com/
    Okey!

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  2. O filme é excelente! Permite a Psicanálise tocar em vários aspectos importantes do funcionamento psíquico e das relações humanas.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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